Mauro França
Assistir um clássico no meio da torcida rival foi a experiência mais aflitiva e angustiante que já vivi no futebol. Não recomendo a ninguém, nem a título de curiosidade.
Em 86, eu e alguns amigos da faculdade começamos a ir a todos os jogos do Cruzeiro no Mineirão. Naquele ano, o time fazia uma boa campanha no Brasileiro, a melhor em anos, e classificou-se para a fase de mata-mata. Como era costume na época, o campeonato atropelou o calendário e as fases finais foram disputadas no inicio de 87. Nas oitavas o time passou pelo Joinville e nas quartas enfrentou o rival, que tinha a vantagem de jogar por dois empates.
O primeiro jogo, num domingo, terminou 0×0. Nesse jogo, estávamos na arquibancada. Para o segundo jogo, na quarta seguinte, decidimos ir de cadeira, onde nunca tínhamos ido.
O amigo encarregado de comprar os ingressos foi para o Barro Preto, onde a fila estava enorme. Resolveu então passar pela sede do rival e como lá a fila estava menor, comprou os ingressos.
Ele só não sabia de um detalhe: as cadeiras inferiores estavam divididas, e em cada sede eram vendidos apenas ingressos para o setor de cada torcida. Sem saber, fomos para o Mineirão com ingressos para o setor da torcida emplumada.
Só nos demos conta da mancada quando entramos no setor determinado no ingresso. Estávamos no meio da torcida emplumada. Por sorte, nenhum dos três estava uniformizado, apenas eu vestia uma camisa azul. Mesmo assim, bateu o pânico.
Tentamos passar para o setor cruzeirense e fomos impedidos por um PM. Explicamos a situação e ele nos mandou falar com alguém da ADEMG.
Saímos, procuramos um funcionário e explicamos novamente a situação. O sujeito não se comoveu com a nossa situação e disse que nada feito, teríamos que ver o jogo ali mesmo.
Com o jogo quase começando, fomos procurar um lugar para sentar e só encontramos na primeira fileira. Ou seja, na nossa frente, estava a geral. Atrás de nós, todas as fileiras de cadeiras. Éramos três no meio de milhares de emplumados. Decidimos ficar o mais quieto possível, sem dar bandeira.
O 1º tempo terminou 0×0. A adrenalina corria e não dava pra extravasar a emoção. Mas o pior ainda estava por vir. No inicio do segundo tempo, Renato Pé-Murcho abriu o placar. Enquanto os emplumados explodiam, nos levantamos e ficamos dando tapinhas nos ombros para disfarçar. Logo depois, Douglas empatou. Vimos o outro lado –o nosso lado– explodir em festa e ficamos lá, quase estáticos, à beira de um ataque de nervos.
Em campo, o time partiu em busca da vitória. Quase no final do jogo, Douglas, que fazia grande partida, acertou o travessão. Instintivamente, me contorci todo na cadeira. Aí um cara do lado falou que a gente podia torcer, que não tinha problema, que ele sabia que éramos cruzeirenses. Agradeci a compreensão e perguntei: E os outros aí atrás, entenderiam? E torci para ele ficar quieto e o jogo acabar logo.
Quando finalmente acabou, saímos às pressas. No estacionamento, começamos a correr e a gritar como loucos, soltando tudo que tinha ficado preso durante a partida. Tínhamos que extravasar de alguma maneira as emoções contidas.
A partida terminou 1×1, os emplumadox se classificaram pra sequência do campeonato (foi desclassificado pelo Guarani na semifinal). A torcida cruzeirense aplaudiu seu time no final do jogo. E nós nunca mais compramos ingressos para o setor errado.
- Cruzeiro 1×1 Atlético-MG, quarta-feira, 11fev87, 21h, Mineirão, jogo de volta das quartas de final da Copa Brasil 1986 (Campeoanto Brasileiro) – Público: 90.190 pagantes – Juiz: Romualdo Arppi Filho – Amarelos: Gilmar Francisco, Genílson, Eduardo Lobinho (Cru) – Gols: Renato Morungaba, 7, Douglas, 13 do 2º tempo. Cruzeiro: Gomes I, Balu, Geraldão, Gilmar Francisco e Genilson; Douglas, Ernani (Eduardo Lobinho) e Heriberto; Robson, Hamílton e Edson. Tec; Carlos Alberto Silva / Atlético-MG: Pereira, Nelinho, Batista, Luisinho e Paulo Roberto Prestes; Elzo, Everton (Paulo Isidoro) e Zenon; Sérgio Araujo, Renato Morungaba, Edvaldo (Ramon). Tec: Ílton Chaves.
Mauro França, 47, cruzeirense, economiário, historiador, nasceu em Sete Lagoas, mora em Belo Horizonte.
N.B.: Ficha técnica do jogo de ida: Cruzeiro 0x0 Atlético-MG, domingo, 08fev87, 17h, Mineirão, Belo Horizonte, jogo de ida das quartas de final da Copa Brasil de 1986 (Campeonato Brasileiro) – Arnaldo Cézar Celho – Amarelos: Genílson, Edson (Cru), Luizinho (Atl) – Cruzeiro: Gomes I, Balu, Geraldão, Gilmar Francisco e Genilson; Douglas, Eduardo Lobinho e Heriberto; Ernani (Vanderlei), Hamílton e Edson. Tec: Carlos Alberto Silva / Atlético-MG: Pereira, Nelinho, Batista, Luizinho e Paulo Roberto Prestes; Elzo, Zenon e Éverton; Sérgio Araújo, Ramon (Reinaldo Xavier) e Edvaldo. Tec: Ílton Chaves.
Que história!
Eu acho que em um Rapocota eu não conseguiria segurar a emoção não. Tudo bem que o medo de extravasar no lugar errado deve ser tão grande que a pessoa acaba se policiando mais. Mas como você colocou, um momento de distração basta para que alguns te identifiquem e aí o risco é muito grande. Mas é uma história e tanto!
Eu quase gritei GOOOOOL na hora que o Kleber fez o segundo gol contra o Santos ano passado. Sorte que o lance foi muito rápido, tempo suficiente pra transformar o grito de gol apenas num grunhido.
Assisti um jogo das frangas no campeonato Mineiro. Eles precisavam ganhar do Uberaba e o Cruzeiro jogava fora, nãomel lembro contra quem. O Alves ainda errou um penalty… Nunca sequei tanto, mas no final eles ganharam o jogo. NUNCA MAIS.
TENSO ! Sei bem o que o Mauro França passou… Ano passado assisti Santos x Cruzeiro nas sociais da Vila Belmiro. O Palmeiras se ferrando lá contra o Botafogo e eu vendo o Kléber fazer o gol da classificação para a Libertadores… UFFF ! Essa história, assim como a do Mauro, foi contada num post aqui do PHD.
Que falta de sensibilidade do funcionário da ADEMG! Deve ser pateticano, só assim para tamanha falta de compreensão!
Nâo tinha pensado nisso, Simone provavelmente ERAM SIM ! E o PM também. O único atenuante pode ser que eles tenham desconfiado do Mauro & Cia que poderiam querer criar algum tipo de tumulto no lado cruzeirenes. Mas mesmo assim a postura de ambos é altamente questionável.
Sem dúvidas! Atitude de quem quer ver o circo pegar fogo…
Mauro,
Na semi-final do Mineiro/06 passei pela mesma situação. Tio bom que sou, atendi ao pedido de um sobrinho, desgraçadamente atleticano, e para que ele pudesse ir ao jogo, concordei em ficar com ele no meio dos emplumados. Vi o Francismar e o Wagner fazerem dois golaços me controlando para não vibrar no meio da galoucura. O lado legal foi ver a nossa torcida vibrando e gozando os emplumados, que assitiam a tudo em silêncio.
P.S. por acaso foi o Chuchu que comprou o ingresso errado?
Faltam umas histórias de quando a gente ia na tribuna de honra, pelos idos de 85, lembra? Vimos a sensacional estréia de Dedé de Dora… Quem comprou os ingressos foi o Zé Ricardo.
Aquela fase foi difícil. e olha que o Dedé ão era m mal jogador. Em um time estruturado ele não faria feio. Já o Bendelack…….
E o Adam Machado…
Do jogo do domingo não me lembro. Mas o de quarta-feira foi incrível. Acho que foi nele que o Robson errou uma cabeçada debaixo do gol lá pelos 35 do segundo tempo. Inacreditável. Esse time era muito bom. Sempre proporcionava bons jogos.
OFF: alguém leu o “Estrago de Minas” hoje? Dizem que o Jaeci está detonando o Cuca e o Henrique!
Jaeci está em guerra com os volantes do Cruzeiro, já chamou o Paraná de brucutu e agora deve tá mirando no Henrique. Pra ele Cuca tá jogando o título fora deixando o Roger no banco e jogando um futebol covarde e defensivo.
Paraná Brucutu? Como diz o Gil Brother, meu Deus… é o fim do mundo…
O Nélson Rubens do mundo futebolístico?
O próprio! Queria que alguém me contasse com mais detalhes. Nem que fosse por e-mail.
Se os treinadores do Cruzeiro deixassem a imprensa escalar o time, teríamos Jadílson, Fabinho, Domingues, Apodi, Roger e outros menos votados como titulares. Embromation…
Não perca o seu tempo, Simone.
Bom, já que ninguém pode de contar,vou ver se consigo achar quem tenha o jornal. Eu sei como perco meu tempo.
hehehe… Simone, realmente não vale a pena.
#jaecifail
Time dos adorados da imprensa mineira :
Goleiro uruguaio a la Carini
Apodi
Beque Argentino I
Beque Argentino II
Jadilson
Fabinho ( capitão do time )
Maicossul
Domingues
Roger
Guerron
Marcel (amigo do Neymar )
Téc : Geninho
Discordo dessa lista, Matheus porque nomes como Maicossuel sempre foram criticados injustamente por alguns jornalistas. Mas poderia incluir: 1- Zé Antônio. Segundo Emanuel Carneiro, o “Zé do Galo” era o Maldonado do Atlético-MG. 2- Rafael Mirando o Xodó da Vovó. 3- Rodrigo Fabbri. 4- Vanderlei Luxemburgo.
Hugo,
Achei que o Geninho combinava mais com esse time que o V Lux e como ele tb ele já foi pedido no Cruzeiro por repórteres e torcedores ganhou o lugar.
Qto ao Maicossuel realmente foi bastante criticado até com razão porque fez pouquíssimas boas partidas aqui mas depois que saiu tb serviu de amuleto pra quem batia no então treinador.
OT: O Sada-Cruzeiro venceu o Vivo-Minas por 3×0 e conquistou o Mineiro de Vôlei. O Chaves podia dar os detalhes…
O Chaves foi a Itabira pois tem interesses comerciais nas placas de publicidade. Ele não teve tempo de ver o jogo nos detalhes e está até rouco de tanto comemorar no meio da galera.
Eu me senti representado pelo Charles e pela torcida Itabirana.
sensacional essa historia…lembro muito desse jogo, Douglas jogou muita bola, lembro que perto do fim do jogo, o Robson ia fazendo um golaço e a bola bateu no travessão….lembro tbem que o Cruzeiro saiu de campo aplaudido de pé pela torcida…
Será que na época teve narrador dizendo que a torcida celeste tava aplaudindo os jogadores do rival ?
Valeu, Othon. Boas lembranças, apesar do empate que não nos servia. A memória me traiu, a bola no travessão foi do Robson e não do Douglas, que, de todo modo, jogou muito. No final do vídeo, aparição justo do Jaeci Carvalho.
ta aqui um video desse jogo:
http://www.youtube.com/watch?v=gIZGz4xVDuU
Olha quem é o narrador/ reporter !!! Essa peça está aqui a mais de 20 anos é?
Isso já aconteceu comigo também, mas como o Cruzeiro venceu por 3×1, a experiência acabou sendo até divertida! Nesse jogo eu estava acompanhado de 3 amigos e apenas 1 deles era pateticano. Se não me engano esse jogo aconteceu em 1990, numa época em que o Careca estava jogando muito no Cruzeiro. Foi dele um dos gols, com uma cavadinha sobre o goleiro adversário, no gol do lado emplumado, onde, inadvertidamente, eu e meus amigos estavam. Eu cheguei a me levantar para comemorar, mas me contive à tempo.
Gomes; Balu, Gilmar Francisco, Douglas, Heriberto; Robson, Hamilton e Edson são alguns craques da minha infância. Em dias de clássico, me debruçava no muro da rua para assistir o desfile de carros e bandeiras que subiam para o estádio. Escutei este jogo pelo rádio da relíquia familiar, uma Marajó82. Parabéns ao chatoba Mauro França pelo post, muito bacana.
Eu já assisti um Rapocota na torcida das cocotas: a tribuna de imprensa!
Perfeito.
Mauro, a história, para nós que não passamos por algo semelhante, é divertida. Eu tenho aqui em Sorocaba amigos que torcedores de todos os times da capital. E, vez por outra, me convidam para ir ver meu time contra o deles. É óbvio que também ficarei no meio da torcida adversária. Qualquer hora farei esse sacrifício para poder ver meu time jogar.
Não vi o jogo dos urubusxgambás. Na quinta pela manhã liguei a TV e o Sportv 2, estava mostrando a entrevista do profexor. Pelo tom das perguntas, parecia que o Fla tinha ganhado de goleada. A imprensa carioca também agrada o cidadão.
A ficha dos 2 jogos:
– http://www.cruzeiropedia.org/Cruzeiro_0x0_Atl%C3%A9tico-MG_-_08/02/1987
– http://www.cruzeiropedia.org/Atl%C3%A9tico-MG_1x1_Cruzeiro_-_11/02/1987
Que história bacana, Mauro! Tenho vontade de assistir um clássico do lado negro…
Parabéns pela história, Mauro. Eu tinha 8 anos e este jogo foi um dos primeiros da minha memória. Lembro que meu pai foi ao jogo com meu tio e meu tio voltou dizendo que recebeu uma pedrada na testa dentro do Mineirão. Na época achei que a pedra tinha atravessado todo o campo até atingi-lo do outro lado…rss
Que fria hein França! Lá em Uberlândia, um pateitcano entrou para ver o jogo, acabou descoberto, e tomou uns belos sopapos. Fois socorrido por outros cruzeirenses e depois pela polícia.
Eu fiquei sabendo que a franga entrou lá e tripudiou com a galera de BSB… e saiu de fininho… Fiquei sabendo da versão errada?
NUNCA assisti nenhum jogo das frangas no meio da torcidinha deles.
Já estive em vários jogos deles de maneira bem disfarçada. EM alguns fui até identificado, mas os caras não tiveram um motivo sequer para me detonar… um risinho entre os dentes é pior, pra eles, do que algém comemorando ou gritando… ver a cara deles de desespero é ÓTIMO!
Quem foi neste jogo, Mauro? Você, o Zé e quem mais?